domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sinto muito, mas preciso falar

Existe a Pessoa Ideal (Alma Gêmea)?

“Alma gêmea”, “príncipe encantado”, “cara metade”, são algumas das expressões criadas ao longo do tempo para manifestar o desejo do coração humano de encontrar seu “par ideal”.
Essa “alma gêmea”, no caso, seria alguém que só nos proporcionasse felicidade. Que nos fosse fiel, nos protegesse e nos amasse incondicionalmente, além de ser alguém que nos satisfizesse ou ajudasse a satisfazer todas as nossas necessidades materiais. Será que existe uma pessoa assim? Parece que não. O que existe, na verdade, é uma “alma gêmea” no sentido de existirem pessoas com as quais temos afinidades, gostamos de sua companhia, admiramos. Mas longe, de serem pessoas que possam preencher o deserto imenso de nossa vida.
Mesmo assim, a convivência com a pessoa com a qual temos afinidades precisa do suporte do amor verdadeiro para subsistir às intempéries da convivência humana. Segundo o apóstolo Paulo “o amor é paciente, bondoso; o amor não é invejoso, não se presta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...”
Portanto, conforme Paulo, o amor verdadeiro implica renúncia. No mito da “alma gêmea” a pessoa que anseia por outra, parece querer uma pessoa que possa suprir suas carências sentimentais, emocionais e espirituais e “que possa sentir como ela sente”. É como se a outra tivesse que se “anular” para fazê-la feliz. À medida que isto não ocorre chega-se à conclusão de que foi feita a escolha errada. A busca pela “pessoa ideal” prossegue, arranjam-se parceiros e mais parceiros e o resultado é somente desencanto e desilusão com o sexo oposto e em alguns casos, solidão.
Consequentemente passa-se a desacreditar no namoro sério, no casamento. Foram criadas até mesmo frases preconceituosas tipo “todo homem é igual”, “toda mulher é assim mesmo” e tantas outras. Além disso, frases de significados eternos como “meu amor”, “meu bem”, “eu te amo” foram banalizadas a ponto de se tornarem interjeições, pronomes de tratamento. Utilizam-se estas frases no trato até mesmo com pessoas que não se conhecem. Qualquer pessoa é “meu bem”, “meu amor”. Embora não pareça, a banalização de frases de significados eternos de certa forma, é a manifestação incosciente de pessoas decepcionadas com relacionamentos afetivos. "... que o amor não seja “fingido...”, disse o apóstolo Paulo.
Tais problemas ocorrem, a meu ver, porque a maioria de nós temos direcionado a busca do “nosso par ideal” ou vivido nossos relacionamentos afetivos (namoro, noivado, casamento) com base no mito da “Alma Gêmea”.


Marcos Antonio Vasco Rodrigues.
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Publicado em: 08/02/2009
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Um comentário:

Anônimo disse...

Detesto quem mal me conhece (uma vez ou duas vezes me viu) e diz que sentiu saudades e que já me ama. Projetarmos nossos sonhos e esperanças num único ser, imperfeito e potencialmente desleal, na expectativa de nos unir ao Paraíso na Terra e com ele preencher nossa carência vazia e existencial é correr de Ferrari em direção ao sofrimento. Tudo, até o prazer, se torna dor. Quando entendermos que um relacionamento duradouro ou até a morte separar se faz com paciência, sabedoria e conscientes de que o outro é independente e diferente pela educação que recebeu, pelos dramas e experiências pessoais vividos, pela visão de como o mundo funciona, pela individual personalidade e organização genética seremos mais felizes.