quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A INCOMPREENSÍVEL ESCOLA DO DESERTO

Haveria algo agradável no deserto? A própria origem da palavra é dolorosa, vem do latim “desertus” que significa “abandonar”. É um ambiente absolutamente perigoso. A população de animais é formada por ratos-cangurus, serpentes, escorpiões e uma enorme diversidade de seres vivos que se escondem sob a areia desértica para se protegerem do calor excessivo.Tempestades violentas são frequentes, a vegetação é irregular e insuficiente para oferecer qualquer espécie de abrigo. A própria vegetação já se adaptou à salinidade e à seca do deserto. Falta água, alimento, tudo.
Toda essa paisagem do deserto produz em quem está ali sentimentos indescritíveis de solidão extrema, medo, incerteza, perigo, ansiedade, melancolia... que Pai amoroso teria coragem de enviar seus filhos para treinamento numa escola com estas características? Claro que todos responderiam, - ninguém, não é mesmo? Pois saiba que a principal escola que Deus tem utilizado para treinar seus amados filhos campeões – tem sido a do deserto. Não que Ele quisesse entregar seus amados às feras deliberadamente. De forma indireta,seus filhos recebiam ajuda e apoio. Parece que Deus queria treinar, capacitar, fortalecer emocional e espiritualmente seus guerreiros para enfrentar outros desertos piores. “ Ele falou por meio do profeta Jeremias” ... Os meus caminhos não são os vossos caminhos, nem meus pensamentos são os vossos pensamentos “...
Cito ,por exemplo, o Êxodo comandado pelo campeão Moisés. É absolutamente incompreensível à razão humana, que o Senhor tenha tirado o povo da escravidão no Egito, para levá-lo ao deserto. No Egito o povo era humilhado, cativo, se submetia a trabalhos forçados. Contudo ,tinha pão e água em horários específicos, os riscos que corriam eram bem menores em comparação aos que corria no deserto. Mesmo assim, Deus falando por meio do profeta Ezequiel, disse: “Tirei-os da terra do Egito e os levei ao deserto” pelo contexto bíblico Deus dá a entender que o deserto seria melhor que o Egito.
Analisando o comportamento do mais proeminente campeão de Deus,Jesus, quando esteve no deserto,percebe-se que Ele parece ter se comportado como um cerdo selvagem. “ Quando um cerdo leva um tiro, ele lambe a ferida e procura safar-se, escapar, ir embora. O “pensamento” que lhe vem à mente é a ferida que está fazendo com que ele ande mais devagar”. Ele não pensa na morte... Jesus levou vários “ tiros” no deserto, porém se comportou como um cerdo.
Está escrito: “ E logo o espírito o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por satanás. Estava com as feras". Percebe-se que Jesus corria o risco iminente de morrer a qualquer momento ( tentação do diabo, feras, o ambiente letal do deserto...) Mas como um cerdo selvagem, ele não se preocupou com a morte, mas “ em lamber as feridas"e continuar sua caminhada. E conseguiu. Venceu as tentações, as feras, o medo, a fome, a sede, os conflitos. Após quarenta dias de treinamento mortal e rigoroso, saiu da escola do deserto, mais preparado emocional e espiritualmente para enfrentar um outro deserto pior que o aquele que acabara de derrotar - o deserto da incompreensão e da ignorância humana.

Ps: Escrevendo este texto e meditando sobre as dores “ incontidas – contidas” dos campeões de Deus, especialmente de Jesus, meu coração não conseguiu refrear varias lágrimas quentes que abriram caminho no meu rosto. Este texto foi escrito com lágrimas. ´



Marcos Antonio Vasco Rodrigues

Esta obra está registrada e licenciada. Você pode copiá-la, distribuí-la, exibi-la, executá-la desde que seja citado o autor original. Não é permitido fazer uso comercial desta obra.Publicado em: 26/08/09

sábado, 15 de agosto de 2009

Saudade não tem fim

São necessários vários relicários para guardar tanta saudade. Desde a nossa mais tenra idade ela se apropria de um dos compartimentos de nossa alma e fixa, ali, sua morada definitiva. Com freqüência, ela desperta e traz de volta momentos magicamente belos e doces, faz nosso peito ficar quente e nosso coração pensativo. Precisamos, de vez em quando, refreá-la com a nossa razão, a fim de que ela não se transforme em tristeza e melancolia. Neste caso, ela já passaria a ser algo nocivo. Segundo a História oficial, muitos negros na época do Brasil - Colonial, trazidos como escravos morriam de saudade, tristeza e melancolia.
Lembro com ternura e saudade da figura angelical da minha primeira namorada. Na época eu tinha dezesseis e estava no auge do sonho e da fantasia. Sinto saudade do silêncio e da inocência dela. Falávamos pouco. Só a companhia e a troca de olhares já eram suficientes. Havia uma empatia produzida pelo ambiente bucólico e pela fantasia do sentimento. Pelas janelas da alma dela eu sentia que sua paixão por mim era maior que a profundidade do oceano. Ficávamos sentados no batente de entrada do velho casarão da casa dela. Eu chegava lá às cinco e meia da tarde e ao nosso dispor um vasto horizonte e o cair da tarde. Minha sensibilidade de adolescente apaixonado conseguia perceber a tristeza do horizonte. Por que ele sempre ficava triste ao entardecer? Estaria prevendo o fim do nosso romance? Parece que sim. Justamente neste clima de encanto e mistério que envolvia nosso sonho, ela teve que ir embora para outra cidadezinha, deixando um rastro de desolação e eterna saudade. E o pior: se despediu de mim por carta. O que teria acontecido? Se a saudade não envelhece, não morre, ao contrário do que se afirma, de onde ela vem? Seria de Deus?
No livro de Genêsis esta escrito “ então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração” também está escrito no segundo livro de Samuel “ estendendo pois o anjo a sua mão sobre Jerusalém para a destruir o Senhor se arrependeu daquele mal”
Ora , se Deus manifesta sentimentos de arrependimento, pesar e tristeza, por que não manifestaria, também, sentimentos de saudades? Mas por que Ele a sentiria e por quem?
Todos nós temos histórias sem fim de saudade para serem contadas. Confesso que gostaria de saber as histórias das saudades de Deus. Parece que com Deus também ocorre o mesmo que acontece conosco - Tristeza tem fim, saudade não...


Marcos Antonio Vasco Rodrigues

Esta obra está registrada e licenciada. Você pode copiá-la, distribuí-la, exibi-la, executá-la desde que seja citado o autor original. Não é permitido fazer uso comercial desta obra.Republicado em: 15/08/09

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sinto muito, mas preciso falar

A suposta origem dos maus sentimentos...

Dissimulação, inveja, sedução, falsidade, materialismo, ciúme, ódio são alguns dos sentimentos danosos que têm, desde sua origem até hoje, provocado a infelicidade e a tragédia da sociedade humana. Na verdade, todos eles estão presentes em maior ou menor intensidade em todo coração. Nenhum tipo de conhecimento, a não ser o teológico, oferece “pistas” para se saber a origem de tais sentimentos do coração.Se analisarmos a História humana desde as sociedades mais primitivas, veremos, claramente, que eles têm prevalecido no coração, nas atitudes e no comportamento das pessoas. Somos superiores aos animais em intelecto e criatividade, porém no quesito expressão de sentimentos somos inferiores à maioria deles, (por exemplo, o cachorro não guarda mágoa). (O avanço tecnológico não contribuiu para produzir relações saudáveis, fraternas, duradouras e felizes.) Analisando o capítulo terceiro do Gênesis observamos que o ser humano (está na sua gênese) vem reproduzindo as mesmas atitudes e sentimentos expressos pelos personagens do Jardim do Éden: A serpente, Adão e Eva. Deus houvera dado uma ordem ao casal: “Não comereis do fruto da árvore que está no meio do jardim, “para que não morrais”. A serpente que morava também no Jardim (devia ser uma entidade espiritual, pois cobra não fala) disse: - “Não morrerá, Deus é que não quer que você compartilhe do conhecimento do bem e do mal com Ele. Se comeres do fruto, vosso olhos se abrirão”. Neste diálogo, a serpente argumentou e seduziu Eva. Eis a primeira história de sedução, pelo menos na Bíblia, de que se tem notícia. Eva, embora conhecedora do Mandamento, não soube contra-argumentar e deixou-se levar pela lábia da serpente. Resultado: - Comeu o fruto e o levou a Adão. Eis aqui a origem de sentimentos como fofoca e boatos. Eva levou os argumentos e a lábia da serpente a Adão e o fez cair também. Adão sentiu-se fragilizado e não teve força para contra-argumentar. Nas relações pessoais e sociais não é também assim? As conversas más têm mais força que as conversas boas, pelo menos na aparência o mal sempre prevalece sobre o bem, embora provisoriamente.A traição também surgiu aí. Deus houvera dado a Eva, o jovem Adão como esposo. Eva traiu a Adão porque não procurou apoio emocional e afetivo nele. Procurou uma terceira pessoa que a seduziu. Assim, Eva traiu a Deus e a Adão. Após o evento da sedução outros sentimentos se manifestaram. Adão e Eva começaram a ter vergonha de seus corpos. Antes andavam nus e não tinham vergonha da nudez e nem de Deus. Qual foi a atitude deles? Penso que devem ter colocado as mãos sobre suas partes íntimas para escondê-las de Deus. Não é assim que fazemos quando alguém nos flagra nus? Deus perguntou a Adão quem lhe mostrou que ele estava nu e se havia comido do fruto proibido: - “A mulher que me deste por companheira me deu o fruto e comi”. Aqui identificamos a origem da transferência de culpa. Adão não assumiu seu erro. Culpou Eva e Eva, por sua vez, pôs a culpa na serpente. Não é assim que fazemos? Sempre procuramos pessoas e situações para culpar-lhes por nossas falhas? Marido culpa esposa, esposa culpa marido, pais culpam os filhos, filhos culpam os pais, patrões culpam empregados, empregados culpam patrões... Biblicamente, a raiz de todos os sentimentos nocivos teve origem no paraíso e na família de Adão. Tudo indica que a serpente, no relacionamento que teve com Eva, contaminou-a com todos os maus sentimentos que fazem parte da nossa natureza. O primeiro homicídio ocorreu nesta primeira família. Caim sentiu-se enciumado de seu irmão Abel, por ter feito uma melhor oferta a Deus. Teve inveja de Abel. Não é assim que se faz também? Quando se sente ódio ou inveja de alguém não se procura desonrá-la, feri-la com palavras e às vezes até matá-la como fez Caim com seu irmão Abel?Se os maus sentimentos apresentam uma origem espiritual, somente Deus poderá nos oferecer as ferramentas apropriadas para gerenciá-los.

Marcos Antonio Vasco Rodrigues

Esta obra está registrada e licenciada. Você pode copiá-la, distribuí-la, exibi-la, executá-la desde que seja citado o autor original. Não é permitido fazer uso comercial desta obra.Publicado em: 12/08/09

sábado, 1 de agosto de 2009

CHEIRO DE SANGUE FRESCO, TEMPORAL E AGONIA

O Sol acabara de pintar o horizonte de vermelho. O céu vestia-se de um azul calmo e sereno. Havia um clima de solidão e silêncio sepulcral. As ruas eram limpas e desabitadas, as casas pequenas e bem cuidadas, assemelhavam-se as de um conjunto residencial recém-construido, contudo a cidade era cercada por grandes muralhas. Não se ouvia nenhum ruído, nenhum movimento nas ruas, havia ausência até mesmo de vento soprando. As plantas dormiam comodamente dentro dos jarrinhos pendurados nas paredes de algumas casas. Seria uma cidade fantasma? Não era, porque daquele lugar emanava uma paz celestial. Marcos contemplava do topo da montanha todo aquele ambiente e conseguia captar pelo coração da alma pessoas suspirando e corações pulsando.Jamais houvera posto os olhos e o sentimento num ambiente semelhante. Que mundo era aquele? Seria a nova Jerusalém? Vieram-lhe à mente várias interrogações. Por que construir tão singela cidade protegidas por gigantes muralhas num vale circundado por gigantes montanhas? Por que os habitantes dessa cidade se recolhiam tão cedo, logo na hora do pôr-do-sol? Por que não se recolhiam após a contemplação do ocaso? E ele, o que fazia ali? Quem o levara àquele lugar estranho? Como chegara? Enquanto seu coração o inquietava com uma infinidade de perguntas sem respostas, um cheiro de sangue fresco invadiu suas narinas. Sentiu medo...e náuseas. Olhou para todos os lados. Seus olhos não conseguiram localizar nenhum ser vivo, nenhum ruído suspeito, nenhum vestígio. Só ouvia e sentia o zumbido do vento passando a mão fortemente em seus cabelos. Será que o odor de sangue fresco estava vindo da misteriosa cidade? Não, não poderia ser, pensou... então decidiu: iria perscrutar cada palmo da cordilheira e só iria desistir quando conseguisse identificar a causa daquele odor, também misterioso e incompreensível. Enquanto decidia por onde iria começar sua caçada, um relâmpago cruza a montanha de norte a sul, acompanhado de trovões medonhos. Era o prenúncio de um forte temporal. Que estranho. - Pensou, não havia clima para temporal. Como se formou tão repentinamente? Sentiu-se menor que uma minúscula formiga. Proporcionalmente ao tamanho do Universo somos isto mesmo, avaliou . Sentiu na pele da alma, naquela tensa situação, a pequenez e a extrema fragilidade do ser humano. Mas Precisava proteger-se do temporal. Não havia abrigos na montanha. Não havia escolha. Desceria a montanha e pediria abrigo na estranha cidade. E assim o fez. A descida era íngreme e perigosa, mesmo assim apressou os passos, pois ao olhar para trás uma forte enxurrada corria atrás de si. Sabia, sem saber por que sabia: caso fosse tocado pelas águas da enxurrada, que corria na montanha, morreria. Quando chegou ao enorme portão da estranha cidade estava ofegante e exausto.- Por favor, abra – disse apavoradoUm homem fardado com roupa de tecido cáqui, olhou tranquilamente para Marcos e disse-lhe:- Você não pode entrar!Marcos olhou novamente para trás. A enxurrada estava a poucos centímetros dele e gritou:- Amigo, se essa água me tocar eu morrerei. Por isso não posso voltar.- Pois aqui você não tem autorização para entrar. Enfrente a enxurrada e volte de onde você veio.- Mas eu não posso, insistiu Marcos.- Sinto muito, disse o porteiro.Marcos deu um pulo da rede. Estava ofegante, com o peito quente e o coração batendo acelerado. Olhou para o relógio. Eram três da madrugada. Respirou fundo. Era só um sonho... ainda bem...


Marcos Antonio Vasco Rodrigues

Esta obra está registrada e licenciada. Você pode copiá-la, distribuí-la, exibi-la, executá-la desde que seja citado o autor original. Não é permitido fazer uso comercial desta obra.Publicado em: 01/08/09