domingo, 2 de novembro de 2008

Cuidado com as palavras

Cuidado com as palavras...

O jogo entre Fortaleza e CRB ocorrido nesta sexta-feira (24/10/08) no Castelão pela serie B do Campeonato Brasileiro era apontado principalmente pela crônica esportiva, como um dos mais “fáceis” para a equipe tricolor. A vitoria era tida como certa, os três pontos já haviam sido contabilizados a favor do Fortaleza com várias semanas de antecedência, era como se o time do CRB não existisse, viria apenas presenciar a feitura dos gols por parte dos atacantes do Fortaleza.
As razões da vitória certa do time leonino eram justificadas pelo fato de o CRB ser o “lanterna” da competição, já estar matematicamente rebaixado e assim não mais teria motivação para “endurecer” com nenhuma outro time. Além disso, o Fortaleza jogaria em casa com o apoio de sua torcida e vinha de um empate corajoso com a Pote Preta em Campinas. Razões e argumentos, portanto, não faltavam para dar a vitoria ao Fortaleza antes de o jogo começar.
Em um programa esportivo dominical de fim de noite produzido aqui mesmo em Fortaleza, mas retransmitido para todo o país, um comentarista disparou “é 5 X 0 pro Fortaleza”. Um outro comentarista perguntou ao atacante Osvaldo:
- “E aí, Osvaldo, vai ser um jogo fácil”?
- Não, não há nenhum jogo fácil. O CRB já está rebaixado e vai querer atrapalhar – respondeu Osvaldo, de forma bastante equilibrada.
O comentarista replicou:
- Osvaldo fala assim, porque todo jogador sempre diz que nenhum jogo é fácil, mas a gente sabe que é um jogo muito fácil para o Fortaleza.
Comentários assim prejudicaram a equipe favorita e alimentou e estimulou a equipe adversária. Certamente os jogadores do CRB ouviram estas e outras afirmações e as encararam como ofensa e desrespeito. Assim eles se aplicaram mais do que o normal para fazer uma espécie de “lavagem da honra”, por isso é bastante comum se ouvir afirmações como: “vamos honrar a camisa”, “merecemos respeito”, “somos profissionais”, etc.
Por parte do time considerado favorito (no caso, o Fortaleza), criou-se um falso clima psicológico positivo, uma vez que os atletas e comissão técnica deram como certa a vitoria, como se já tivesse ganho a partida antes de o jogo começar. Doação e determinação passaram a inexistir.
Por mais desastrosa que seja a participação do time da CRB na competição, os atletas merecem respeito, porque são profissionais. Comentários maliciosos como “o vovô Júnior Amorim”, “o CRB é uma baba” deveriam ser evitados. Afinal, não ficamos nós, também machucados, guando a imprensa do Sul faz referência a nossas equipes de forma preconceituosa?
A história do futebol está permeada de exemplos como esse que ocorreu ontem (24/08). Quem não lembra a vitoria do modesto Bahia, recentemente, no Pacaembu sobre o milionário time do Corinthians? Ou, ainda, o famoso “Maracanaço” ocorrido em 1950 entre Brasil e Uruguai? Comemorou-se o título de Campeão Mundial por antecedência e deu Uruguai.
Não podemos esquecer, também, que o Fortaleza é um dos candidatos ao rebaixamento, por isso há outros concorrentes diretos interessados no “tropeço” do Leão. Quem sabe o CRB não foi “Alimentado financeiramente” para “Endurecer” o jogo? Caso tenha sido, é algo normal, pois não se trata de suborno.
Analisar o adversário e os fatos de forma imparcial e respeitosa deve ser um propósito a ser buscado por todos aqueles que são responsáveis pela formação da opinião pública, do contrário estarão sempre tropeçando nas palavras.


Marcos Antonio Vasco Rodrigues
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Publicado em: 02/11/2008
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